Revista Fragmentos
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É f*da

Como aguentar

Se tentar (e tentar)

Está fora de moda


Por todo lado vejo dor

Estão enfermos ou será eu?

Bom, seja lá quem for

Todo mundo já perdeu


Perdemos sem jogar

Perdemos por tentar

A resposta para isso?

Perder-se no sumiço


Palavra por palavra

Caio sempre para cima

Buscando uma beleza rara

A beleza que não rima


Perder para se achar

Achar e se encontrar

Encontrar o que fazer

Sem perder não há criar


É, esquece. Não sei fazer música e tampouco poesia. Sem cadência, nem rimando, desejo apenas que sorria.



Itaipava, fev. - set. de 2021


22 de setembro de 2021

Rafael Vasconcellos 

Rafael é carioca, clínico em eterna formação, ex-tenor no “SVAC” e mestrando em psicologia pela UFRJ. Filósofo de botequim e sofredor pelo Botafogo, escreve como hobby para ajudar a respirar. Acredita que na escrita de ficção como uma arma poderosíssima de comunicação que deveria ter mais espaço nos ambientes acadêmicos.



Daqui de cima, já posso avistá-los. 
O bonde de Santa voltou e isso tanto nos ajudou!
Olhe ele, que gracinha. Morrendo de medo dos pombos que o contornam. 
Mas logo vem sua amiga, Laura, e mostra como são mais divertidos quando eles brincam. 
É, a chuva está apertando.
"Devo correr para tirar a roupa do varal e fechar as janelas" penso comigo mesmo, mas meu corpo é incapaz de mover-se. 
Como é forte o barulho da chuva e a janela nada mais me mostra da vida lá fora. 
Agora, vejo apenas o reflexo fragmentado de uma pessoa que pouco conheço. 
Nada sei dela, só sei que posso me ver. 
Apesar de nada saber sobre as coisas da natureza, meus antepassados ou como cheguei onde estou. Será que é isso que os bebês sentem ao ver seus reflexos no espelho? 

26 de agosto de 2021

Rafi Nobrega
Psicologia - UFRJ


Sobre processo de escrita: Este texto foi produzido a partir de uma oficina de escrita ministrada pelo Prof. João B. Ferreira durante a disciplina TCC I




  

Com o avanço da vacinação, reencontros presenciais tem ocorrido cada vez mais frequentemente entre pessoas que não se viam há, literalmente, anos.


É muito estranho rever pessoas depois de tanto tempo. Elas estão muito diferentes. Por mais que as reconheçamos e que entendamos que cada um lidou com esse momento da forma que foi possível, o estranhamento acontece – e está tudo bem.


Levando em conta que a maior parte do nosso convívio social foi e é através de janelas digitais, o encontro presencial ainda é algo que parece nem pertencer mais a esse mundo.


É claro, sejamos realistas, tem gente que nem usar máscara em locais públicos e coletivos tem usado, imagina exercer o distanciamento social. Acho sempre importante enfatizar isso quando escrevo sobre pandemia. Há pessoas que não vivem e não viveram na pandemia. Seja por necessidade ou por negação. Mas, fato é, que muita gente viveu e vive, isso não é ignorável.


E os impactos ainda hão de ser propriamente mensurados, pois eles nos cercam e nos constituem fortemente, se pararmos para ouvi-los e senti-los. Claro, são necessariamente dolorosos, então não se preocupe se não conseguir entrar em contato, cada um tem o seu tempo.


Temos, no entanto, como gosto de frisar de tempos em tempos, pessoas que se importam com a gente, que querem nosso bem e que possuímos o sentimento recíproco. Se descobrir e conhecer nossos amigos já foi uma experiência bacana, podemos encarar esse momento do "estranhamento", mencionado anteriormente, como uma forma de redescobri-los e criarmos novas conexões de identificação com eles. Todos nós precisamos de conexões nesse momento. Precisamos, também, de paciência. Quando nos reencontrarmos, alguns sedentos de conversas e de novidades, outros estarão tímidos, sem saber exatamente o que falar. Nossas habilidades sociais precisam também ser exercitadas, como qualquer outra que temos. Alguns tem mais facilidade, é natural.


Mas, ao mesmo tempo, podemos praticar a paciência como forma de carinho àqueles que amamos.


Nessa linha, penso que o verbo "redescobrir", presente inclusive no título, seja fundamental. O exercício de olhar ao redor e ressignificar as coisas é realmente algo da ordem do fantástico. Que consigamos redescobrir lugares, filmes, livros, viagens, memórias e, especialmente, pessoas.




15 de setembro de 2021

Rafael Vasconcellos 

Rafael é carioca, clínico em eterna formação, ex-tenor no “SVAC” e mestrando em psicologia pela UFRJ. Filósofo de botequim e sofredor pelo Botafogo, escreve como hobby para ajudar a respirar. Acredita que na escrita de ficção como uma arma poderosíssima de comunicação que deveria ter mais espaço nos ambientes acadêmicos.



Série da Fragmentos dedicada a conversar com quem se formou recentemente na psicologia da UFRJ para criar uma maior diálogo entre alunes e ex-alunes sobre caminhos feitos e caminhos possíveis.


João Pedro Peçanha se formou em março de 2021 e é mestrando no Programa de Pós Graduação em Teoria Psicanalítica da UFRJ. Durante sua graduação fez iniciação científica e estágio em clínica na DPA com a professora Martha Rezende Cardoso, além de ter sido extensionista do Circulando e monitor de Filosofia II.



Dri: O que fez você ficar interessado em fazer psicologia no início?


JP: Isso é uma pergunta que eu não tenho resposta até hoje direito, porque foi uma coisa que eu sempre tive um pouco de certeza. Tinha uma outra opção, que era fazer biologia marinha. Depois eu percebi que eu só gostava de mar e peixe mesmo e como profissão eu queria ser psicólogo. Mas eu acho que é a escuta mesmo, pra mim é muito importante isso de você dar lugar pra o que a pessoa tá falando. Parece uma besteira, para outras pessoas, mas quando a gente como profissional e estudioso do assunto vê que ouvir, dar lugar àquilo, dá um estatuto de… não consigo pensar a palavra agora, mas de que tá tudo bem, de que o sofrimento dela é legítimo. É legitimidade. Acho que até hoje isso é algo que me move muito. Essa apresentação, pensando na clínica, de cada caso, de cada sessão, cada sujeito ser de uma maneira, é uma forma também que eu enxergo a minha clínica, de não me engessar tanto. Porque quando a gente trabalha com uma teoria, a gente acaba se pautando nela de certa forma, mas não me travar completamente na minha teoria. Expandir o que pode vir a agregar, o que pode fazer com que a minha clínica seja a melhor possível. Que eu possa não só dar acolhimento, mas dar uma certa autonomia pro sujeito conseguir lidar com algumas questões que parecem, que são, muito desmobilizadoras. 


E acho que eu fui entendendo o porque da psicologia com o tempo, durante a própria graduação. Porque antes eu pensava uma coisa muito clínica, academia… Depois eu fui entendendo que psicologia não era só isso. Que tem muita política dentro da psicologia, e na própria clínica também, você trabalha com questões políticas, com questões econômicas. Então tem todo esse atravessamento que sempre me interessou também. Acho que essa maneira de tentar promover alguma mudança a partir do micro e sempre pensando nesse acolhimento, nessa promoção de saúde mental.

Dri: O que te interessava mais durante o curso em psicologia? O que te mobilizava mais? 


JP: Olha, eu acho que sempre gostei de psicanálise, mas o que mais me interessava no curso de psicologia, além da psicanálise, foram as matérias de fenomenologia, filosofia, epistemologia. Tiveram duas matérias de psicologia social que me pegaram bastante, que eu fiquei muito interessado. Alguns momentos das matérias de processos cognitivos, quando falam de aprendizagem, fazendo essa ponte também com a psicologia da educação, que foi uma matéria desse ciclo de psicologia social que me interessava bastante. Essas matérias foram as principais, que eu mais gostei de fazer. Acho que as que eu mais gostei de fazer  foi uma matéria do Camilo, acho que tópicos especiais em psicologia C, que foi sobre ciência e crítica feminista da idéia de deficiência e uma crítica marxista também, que era mais voltada pra epistemologia, e nossa, produção de subjetividades com a Fernanda Bruno também, marca todo mundo parece né? E psicossociologia, que eu descobri que infelizmente nem todo mundo teve da maneira que eu tive, eu fiz com a Mariana Pombo e foi uma das minhas matérias preferidas. Essas três eu poderia dizer que foram as matérias que mais me marcaram durante a graduação.


Dri: Durante o curso, você sempre pensou em fazer clínica? Quais eram suas expectativas pra quando você se formasse? Você sempre pensou em ir pro mestrado?


JP: Olha, eu entrei na faculdade com uma coisa muito idealizada: Piscologia é clínica, e a clínica vai ser a coisa mais linda do mundo. E eu converso muito com os meus amigos, acho que a gente devia falar mais como psicólogo clínico, e como psicanalista também, que a clínica é pesada, coloca a gente num lugar de muito desconforto e desmobiliza a gente também. O problema é que, não é exatamente um problema, mas demora um pouco a gente perceber que isso não vai passar nunca. E se passar é porque tem alguma coisa errada. Mas a gente vai começando a aprender a lidar com isso, a sustentar isso. Quando eu fui pra DPA, eu senti esse baque, e aquilo me mobilizou bastante, gerou muitas questões, eu fiquei bem desconcertado durante um tempo. Mas é isso, fui aprendendo a lidar, fui me engajando mais na minha própria especialização, estudando mais. Foi um momento também que eu acho que a terapia pessoal e o processo de análise foram fundamentais, você levar esse desconforto, esse lugar estranho pra o seu próprio lugar, pro seu lugar de ser escutado, de falar. 


Mas eu não cheguei com essa perspectiva de ir pro mestrado não, sinceramente. Para mim a clínica era uma das únicas possiblidades da psicologia, depois eu vi que tinha mil coisas, psicologia hospitalar, educação, neuropsicologia, psicologia do esporte, muita coisa, jurídica, nossa, muita coisa. Então eu comecei também a me questionar se, bem, se era realmente a clínica que eu ia querer seguir. Mas eu sempre quis dar aula, eu sempre quis ser professor, desde que entrei na faculdade. Então por mais que meu clamor e minha paixão pela pesquisa tenham surgido só a partir da iniciação científica, era já uma possibilidade ir pro mestrado para virar professor da universidade. Aí eu decidi, mais pra o final da faculdade, fazer um mestrado. Até porque minha orientadora da monografia, da iniciação científica, já tava puxando um pouco o meu pé pra isso: “não quer fazer não?”, e eu já tava assim, bom, vou tentar residência, porque é uma questão prática e dá uma bolsa legal, também vou tentar uma especialização, mais voltada pra a prática também. Mas eu passei pro mestrado, e aí deixei tudo de lado e coloquei pra frente o que eu acho que era o que eu sempre quis.

Dri: E como foi isso de se formar durante a pandemia, e resolver o que você ia fazer nesse momento meio caótico que a gente tá vivendo?

JP: Foi bem ruim, foi bem ruim. Porque as coisas parece que não se concretizaram direito, sabe? Porque o ritual de tirar foto na frente do IP, do certificado, de ir pra sala 2, sentar todo mundo, com meus amigos e pessoas próximas de mim pelo menos, fazendo o juramento, todo mundo no mesmo lugar. Acho que essa quebra desses rituais, desses encontros, desses momentos compartilhados presencialmente, ela atrapalhou e tornou tudo um pouco virtual. Bom, pra além da virtualidade da coisa mesmo, mas uma coisa meio virtual de você não conseguir pegar na mão. Fica uma coisa meio estranha, sinceramente. 


E foi difícil também essa parte da decisão porque tinha muita coisa pra priorizar né? Começar a atender não é nada fácil, você gasta muitas vezes mais dinheiro do que você ganha. Então tinha que pensar, uma residência vai me dar dinheiro, então eu tenho que enveredar por esse lado também. Ao mesmo tempo, a residência tinha toda a preocupação com a própria pandemia, na questão de salubridade também. Foi bem difícil sim, porque as coisas foram muito corridas também, com esses períodos mais compactos. Foi tudo muito pa-pum, o período começava, um mês depois você já tava no meio do período e já tava começando a aparecer avaliação final, ao mesmo tempo fazendo monografia e ainda atendendo na DPA, que depois voltou, depois de muito tempo. Foi um outro desafio. Então acho que foi bem complicado, eu me senti bem atropelado pelos períodos e pela rapidez e pela burocracia e ter que responder isso muito rápido para não perder prazo. Eu me senti bem assim, foi bem difícil, mas no final das contas deu tudo certo. Ainda bem.

Dri: E depois desse percurso, tem alguma coisa que você gostaria de deixar tanto pra a galera que tá entrando agora no curso de psicologia, quanto pra as pessoas que estão aí mais próximas de você, já no final do curso?

JP: Cara, acaba. A verdade é essa, acaba. E eu falo isso em dois sentidos né, porque a gente fica muito cansados às vezes. O ritmo da universidade de psicologia, dependendo de quantas matérias você pega num período, é uma carga horária extensa, e isso é muito difícil pra a maioria das pessoas, por diversos fatores. Então, toda legitimidade à pessoa que não tá mais aguentando mais, que não tá suportando, que tá sentindo um cansaço, uma estafa constante. Mas acaba gente, tem fim. E uma coisa que eu demorei um pouquinho pra captar quando eu entrei na faculdade, que obviamente em períodos online não dá pra fazer isso, mas é se engajem na faculdade, nas atividades da UFRJ, na sua atlética, na DPA, no CAFS, nos coletivos que aparecem, que lutam pelos próprios alunos. Eu demorei um bocado pra entender o papel desses lugares, dessas formações. E se engajem em tudo, vão nas festas, quando possível, vivam a faculdade, senta no Sujinho, senta no Asterius, fica no palácio, senta em qualquer lugar, senta no chão, porque depois dá tanta saudades. To um pouco emocionado, sinceramente. Porque dá muita saudades e acho que isso foi mais difícil também de me formar online porque eu não tive esse último dia sendo um aluno da graduação lá na UFRJ. Estar fazendo mestrado na UFRJ é um outro alívio pra mim, porque eu quero voltar lá como aluno de novo e quero viver de novo o campus, sabe? Então é isso, se engajem, participem da faculdade, participem do que vocês conseguirem, e do que não conseguirem tá tudo bem também. Não dá pra fazer tudo, não dá pra ler todos os textos, isso é uma coisa que eu queria que tivessem me dito, que eu pudesse ter ficado mais tranquilo. Não dá pra ler tudo, não dá pra fazer tudo. E apoiem seus amigos, procurem apoio deles e acho que é isso.
08 de setembro de 2021

Adriana Herz Domingues
Psicologia - UFRJ


Sobre a autora: Adriana é estudante de Psicologia, militante feminista e socialista, apaixonada por desenho.



  

O que é ser independente? Não ser dependente, duh. Certo, para tentar ir um pouquinho além disso, vamos ao dicionário (mais conhecido por seu outro nome, hoje em dia, Google): 


Subst. Feminino

1. Estado, condição, caráter do que ou de quem goza de autonomia, de liberdade com relação a alguém ou algo.

2. caráter daquilo ou daquele que não se deixa influenciar, que é imparcial; imparcialidade.


Muito bom esse negócio de dicionário, hein. Resposta dada, próximo problema. 


Por que estou pensando sobre independência? Fácil, este texto está sendo publicado na semana do Dia da Independência, quando o país parou para assistir o que ia acontecer com as manifestações(zinhas) que ocorreriam e ocorreram. Bem, sim, acertou – de fato, essa foi fácil. No entanto, como costumo fazer, não gosto de ir pela via óbvia. 


“Ui, que prepotência, cuidado com ele”. É, soou um pouco assim mesmo, mas explico. É claro que fazer uma análise sobre o que aconteceu no dia 07 de setembro de 2021, relacionando-o com o significado  (ou o suposto significado) do feriado seria interessantíssimo. Fala sério, eu leria sobre isso. Aposto, inclusive, que foi escrito por algum analista ou historiador de forma muito mais técnica e informativa que eu conseguiria.


Pensei, no entanto, num outro tipo de independência, que, na verdade, tem me cercado muito mais do que este que descrevi: a financeira. Aliás, não é ela que tem me cercado, mas a sua ausência – e, ainda mais, o desejo de alcançá-la. De jovens a adultos, e até mesmo idosos, o desalento financeiro e a falta de autonomia que ele gera têm sido mais companheiros do que arroz e feijão (literalmente).


Foi, então, que percebi que estes temas não se distanciam tanto. As manifestações, o feriado, a (não) independência financeira e seus significados estão emaranhados num “poço de agora” que é sufocante demais para ser totalmente absorvido. 


Que estamos em crise, sabemos – agora, compreender a sua dimensão espaço-temporal talvez seja o maior desafio para “analistas”. Para os técnicos, por conta das inúmeras informações macroscópicas. E para os viscerais, por conta da taquicardia e falta de ar de um mundo que nos priva até de respirar. 


Como “se sustentar” em meio a isso tudo? Não só financeiramente… de todas as formas. Como criar estruturas para suportar o que estamos passando? Com que material? Com que energia? Bem, sinto que, aqui, surge mais uma dimensão de “independência” – ou melhor, de falta dela. 


De qualquer forma, vamos conseguir. Não tenho certeza técnica, mas tenho certeza visceral.




08 de setembro de 2021

Rafael Vasconcellos 

Rafael é carioca, clínico em eterna formação, ex-tenor no “SVAC” e mestrando em psicologia pela UFRJ. Filósofo de botequim e sofredor pelo Botafogo, escreve como hobby para ajudar a respirar. Acredita que na escrita de ficção como uma arma poderosíssima de comunicação que deveria ter mais espaço nos ambientes acadêmicos.


 
Descrição da colagem digital: a imagem é composta por um fundo de céu estrelado, no primeiro plano há uma figura recortada da pintura de René Magritte "O terapeuta": uma pessoa (pernas de gente, tronco de gaiola com duas pombas brancas dentro, coberta por uma capa vermelha e cabeça de chapéu segurando em uma mão um cajado de madeira e com a outra um saco de farinha; está sentada em uma lua. Compondo com esses elementos há o recorte de uma folha com um texto no lado esquerdo da lua, no lado direito há a ilustração em traços simples em tom dourado de um punho erguido, atrás da pessoa sentada há ilustração de uma mão escrevendo e ondas sonoras Atrás há chão de areia e as pirâmides do Egito Na parte superior há o título: "Clínica do sujeito: desterritorializações".















Descrição da colagem digital: a imagem é composta por um fundo com estampa do pássaro que representa o conceito de sankofa com padrãos triangulares e circulares nas cores verde, vermelho e amarelo. No primeiro plano há uma foto pixelada de metade do busto de Frantz Fanon (homem negro olhando para frente acima da linha do horizonte), em sua testa há o recorte de um pedaço de papel com a frase "se wo were fi na wosan kofa a yenki". Em seu terno há os dizeres: "fervor is the weapon of choice, of the impotent".




Descrição da colagem digital:
na parte superior há o título: "Desnortear: o retorno ao berço do sul", abaico a colagem é composta pela foto do busto de Achille Mbembe do lado esquerdo (homem negro careca, usando óculos e terno olhando para o lado direito) e Frantz Fanon (homem negro de cabelo curto vestindo terno olhando para frente). Ao fundo há areia desértica, as pirâmides do Egito e um céu estrelado, em tons roxos. Entre os homens há a ilutstração emtraços simples dourados de Ankh - cruz ansata, símbolo egípcio da vida eterna.



Coletânea de textos e colagens digitais realizada por Adriana Gomes, Amanda Rego, Carolina Alves, Danniella Davidson e Lédson Dias. Compôs parte da avaliação da disciplina "Poéticas políticas das emergências: escrever, clinicar, existir" (IPS040 – 2020.2), coordenada pelo professor João Ferreira.

Colagens digitais e edição de Carolina Alves.



  

Por acaso você conhece alguém que possui algum app para lembrá-lo de beber água? Pois, caso não, saiba que são cada vez mais comuns. 

E de qualquer forma, quem nunca ao escovar os dentes de noite, encarando-se no espelho, pensando nos dias que passaram e nos que virão, percebeu que a água para escovar os dentes foram as primeiras gotas que tocaram a boca desde a última escovada, mais cedo? Aí vem as desculpas: "Pelo menos tomei um café mais cedo" ou "um suquinho". É, mas água que é bom mesmo, nadinha. A gente esquece de beber água. Já parou para pensar nisso?

Momento bad vibe do texto: no ano de 2020, ainda havia mais de 4 bilhões de pessoas com acesso limitado à água, segundo a ONU. Nada leva a crer que em 1 ano as coisas tenham melhorado, ainda mais em contexto de pandemia.

Se torna, então, ainda mais sintomático (no sentido de evidenciar) o fato de ser tão comum aqueles que têm acesso simplesmente passarem mais de um dia sem beber água simplesmente por terem se esquecido? Como é que se esquece de beber água!? 

E não estou nem entrando em delegação de culpa. Mesmo aqueles que dizem não gostar de beber água por ter “gosto de nada” – não é de se imaginar que estes se desidratariam deliberadamente. Não, isto, como dito, é “sintomático” – e com isso, quero dizer que nos faz voltar atenção a algo específico, mas que faz parte de algo bem maior.

Sim, mais uma vez falando da nossa rotina maluca com mil coisas para fazer, mil coisas para lembrar. "Como se vai ter tempo de fazer algo tão trivial como beber água, se tem que terminar aquela planilha?" É sintomático.

Como me disse o meu namorado, enquanto falava aleatoriamente sobre este tema: "o ser humano inventou tanta coisa que não temos mais interesse em água". Pois é, se "água é vida", como dizem, aparentemente não nos lembramos mais de nos saciar com o vital. Nosso dia-a-dia é muito ocupado. A gente não tem mais tempo para esse tipo de coisa.



01 de setembro de 2021

Rafael Vasconcellos 

Rafael é carioca, clínico em eterna formação, ex-tenor no “SVAC” e mestrando em psicologia pela UFRJ. Filósofo de botequim e sofredor pelo Botafogo, escreve como hobby para ajudar a respirar. Acredita que na escrita de ficção como uma arma poderosíssima de comunicação que deveria ter mais espaço nos ambientes acadêmicos.
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